7 de dezembro, dia de Santo Ambrósio

07-12-2013 00:44

A propósito do dia hagiológico de Santo Ambrósio, arcebispo de Milão, aqui deixo a seguinte informação histórica:

No ano 374, morreu Auxêncio, o ariano Bispo de Milão, cidade sede das províncias de Emília e Ligúria. Para eleger o sucessor, a população dividiu-se em dois partidos antagónicos: os católicos queriam eleger um homem fiel ao Papa, ao passo que os arianos propugnavam por um sequaz de Ario. A exaltação dos ânimos ameaçava degenerar em guerra civil. A eleição, ao tempo, era feita na catedral pelo clero local com a presença do povo.

O governador Ambrósio viu-se obrigado a intervir para manter a ordem. Dispôs as tropas na praça e fez cessar o tumulto. Em seguida, acompanhado de uma escolta, entrou na catedral para garantir o bom andamento da eleição. Graças à sua eficaz ação, logo se acalmaram os ânimos exaltados. Então ele postou-se em lugar bem visível a todos os presentes, com olhar vigilante sobre a assembleia. Nesse momento, ouviram-se uns brados partidos do fundo do grandioso templo: 

− Ambrosius episcopus! (Ambrósio o Bispo!)  

Como surgiu esta surpreendente aclamação? 

Um menino tão novo que ainda não sabia falar foi quem deu o primeiro brado. Altamente admirada de ver o filho pronunciar suas primeiras palavras – e que palavras! – a mãe fez coro com ele, e logo se lhes juntaram outras vozes. Em pouco tempo, todos na catedral, inclusive os arianos, bradavam em uníssono: 

− Ambrosius episcopus! Ambrosius episcopus! 

− Sou um pecador! Sou um pecador! − replicava o governador.

− Não importa, não importa! Invocamos sobre nós os teus pecados! − gritava o povo a uma só voz.

Ante manifestação tão inesperada, aquela autoridade do maior império do mundo não encontrou outra saída senão o recurso dos indefesos: fugir e esconder-se na casa de um amigo.  Os cristãos milaneses não desistiram. Enviaram uma delegação para relatar a Valentiniano I o que havia acontecido e rogar-lhe autorização para o governador Ambrósio ser ordenado bispo.

O Imperador consentiu, reconhecendo no eleito um verdadeiro "enviado de Deus". À vista disso, o amigo de Ambrósio indicou o lugar onde ele se encontrava.

Reconduzido a Milão, o Santo acabou por reconhecer naqueles acontecimentos a vontade de Deus.

O bispo recém-eleito tinha 34 anos de idade e pertencia a uma família cristã, mas ainda não era batizado, sendo apenas catecúmeno. Foi-lhe ministrado o batismo e a confirmação, recebeu a ordenação sacerdotal, logo em seguida e, oito dias depois, foi ordenado Bispo, a 7 de dezembro.

O clero e os fiéis de todo o Império acolheram com indizível júbilo a notícia dessa prodigiosa intervenção divina.

Não é difícil, sob impulso do Espírito Santo, ordenar um bispo apenas oito dias após o seu batismo. Mas como, num curto tempo, transformar em pastor de almas um homem que, uma semana antes, era ainda catecúmeno? Pergunta interessante para se ver como a graça divina, quando bem correspondida, opera maravilhas.

Ambrósio era rico, mas não apegado à riqueza deste mundo. Doou à Igreja as terras que herdara. Quanto aos outros bens, distribuiu-os em parte pelos pobres e em parte pela Igreja. Altos cargos no governo imperial, posição social brilhante, vida familiar – tudo isto sacrificou para se ocupar somente do serviço de Deus.

Assim desembaraçado de qualquer preocupação terrena, o novo bispo aplicou-se ao estudo das Sagradas Escrituras e dos autores eclesiásticos, sobretudo São Basílio. À medida que estudava, fazia pregações. Apenas três anos haviam decorrido, e já ele inaugurava – com a publicação dos livros "As Virgens" e "As viúvas" – a prodigiosa atividade de escritor que lhe valeu os títulos de Doutor e Padre da Igreja. Em breve tempo, ele brilhava no mundo cristão como o campeão da luta contra o arianismo, muito forte naquela época, e os restos do antigo paganismo. Triunfou sobre ambos, impondo silêncio à heresia e conquistando a Itália inteira para a fé católica.