Passar acima dos leões

26-11-2013 23:53

 

No passado dia 21 de novembro, o país pôde assistir à maior manifestação de sempre das forças e serviços de segurança de Portugal. Tratou-se de uma extraordinária marcha de protesto em prol redignificação do estatuto de cada um dos corpos das forças e serviços, pela fixação de estatutos remuneratórios e pela recuperação da autoridade e prestígio enquanto representantes da soberania do Estado no terreno, contra a indiferença dos poderes e da sociedade em relação à falta de meios humanos e materiais que permitam a segurança de pessoas e bens por parte de quem arrisca a vida em circunstâncias muito peculiares, sem dia e sem hora.

Como manifestação a marcha foi mesmo exemplar sem incidentes e sem atropelo à justa dimensão.

Não obstante, a parte final poderá ter criado um significativo precedente: sob a palavra de ordem “invasão muitos dos manifestantes derrubaram as barreiras de delimitação do perímetro habitual de segurança do edifício do parlamento. Assegura-se que não houve arremesso de pedras nem de outros objetos contundentes e que às portas do palácio de São Bento recuaram por sua livre e espontânea vontade, acabando por respeitar a “casa da democracia” – como aliás terá reconhecida a presidente da Assembleia da República.

Dizem alguns que as forças da ordem não reagiram para evitar desfecho dramático, falando-se mesmo em hipotético “banho de sangue” havendo mesmo quem refira que a escadaria terá sido galgada noutras ocasiões. Alvitram outros que a lei é a lei e que ninguém está acima da lei, pelo que as forças da ordem deviam tudo ter feito para evitar que os manifestantes subissem para lá dos leões. A esta linha de argumentação responde-se que, se a lei fosse levada à risca, dificilmente se poderiam levar a cabo manifestações, pois raramente medeiam 100 metros (os da lei) entre a rua e o objeto de referência das manifestações de protesto.

Que diz o governo? Que a atitude foi grave, que era necessário retira consequências e o diretor nacional da PSP passou pela demissão e outro fora escolhido para lhe suceder, garantindo-se que tal situação não se repetirá (será de crer?).

Que diz a oposição? Que o governo acompanhou pari passu a preparação da manifestação para obviar à segurança dos manifestantes e impedir excessos e atropelos à lei (algo confirmado por quem do lado da maioria já exerceu funções governativas), que se houvesse manifestação excessiva e à revelia do contexto específico, estaríamos agora a comentar a história de outra maneira e que é necessário refletir sobre as razões que levaram a tão extraordinária manifestação de protesto e reivindicação.

E que pensam os cidadãos?