Perante esta procissão de incompetentes…

16-12-2013 23:11

 

A Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal elegeu hoje, 16 de dezembro, Mário Soares como a personalidade portuguesa de 2013. 

Neste ano, o ex-presidente da República Mário Soares tem sido uma das principais vozes na sociedade portuguesa – asseguram os jornalistas estrangeiros a trabalhar em Portugal, que quiseram, com este prémio, destacar o importante papel desempenhado por Mário Soares na Democracia e na história de Portugal.

O prémio constitui um reconhecimento da pessoa ou da instituição portuguesa por ele titulada que mais fez pela imagem do país no exterior. Se não foi voz única a tomar iniciativas conducentes ao debate, foi, pelo menos, aquele que suscitou um maior número de personalidades de quadrantes diversos a clamar pela necessidade de mudança de rumo e a opor uma lógica lancinante de firme oposição à onda pública dominante de inevitabilidade, dando vez e voz à erupção latente de desconforto e descrença qual aviso à necessidade de mudança de direção política. Mais: assinala a possibilidade de violência que não se deseja, mas contra a qual as defesas da Europa sem rosto e sem futuro já não disporão de imunidade, havendo, pois, que evitar o desespero coletivo de consequências imprevisíveis.

Trata-se de um homem que, não sendo nada pobre, fala em nome e defesa dos pobres, sem se afirmar pobre, como fazem outros. Poderia ficar no conforto do seu lar, no aconchego de sua manta, mas decide vir à rua ou à academia, sabendo que pode não ser ouvido, mas, habituado a ganhar e a perder com a mesma “cara de Soares”, suscita adesão, mesmo de quem não vai ao seu areópago, crítica, por vezes irónica e despeitada, e mimetismos que geram ações em nome da cidadania.

Torna-se aquela voz incómoda para a governança e para a oposição entretida com o quotidiano e o banal, sem projeto ou sem viabilidade e sobretudo é uma referência memorialista dos velhos políticos cujo saber, debate, dedicação à causa pública tanto contratam com longuíssima, sinuosa e asfixiante procissão de mediocridade que infesta este horto da beira-mar mais ocidental da Europa, governado por convictos adoradores de mercados, subservientes dos divinos credores, olvidados de que também somos contribuintes dos créditos, e grandes pregadores da inevitabilidade.

Coitadinhos dos alemães que já não podem continuar a pagar o facto de nós teremos ousado viver acima das nossas possibilidades! Não foram eles que incitaram ao consumo, ao endividamento para escoar seus produtos materiais e financeiros? Não foram eles que beneficiaram da solidariedade da Europa e do resto do mundo na reconstituição a seguir a duas guerras perdidas?

Porém, a procissão da incompetência não se cansa de entoar o hino da inevitabilidade a grande coral e acompanhado a luzido instrumental.