S. Francisco de Sales

24-01-2014 21:29

S. Francisco de Sales

Celebra-se hoje, 24 de janeiro, a memória litúrgica de S. Francisco de Sales, que o papa Pio XI proclamou padroeiro dos jornalistas e escritores católicos, em 1923, e que Pio IX proclamara Doutor da Igreja, em 1867. A efeméride leva-me a breve resenha sobre a sua vida e atividade, bem como a reflexão sobre o papel da comunicação social, que integra a imprensa, desde há muito considerada o quarto poder. Passemos agora à primeira, deixando para depois a segunda.

Primogénito dos 13 filhos dos Barões de Boisy, Francisco nasceu no castelo de Sales, em Thorens, na Saboia, a 21 de agosto de 1567. Por devoção a S. Francisco de Assis, a família escolheu-o para protetor do menino, que posteriormente o assumiu como modelo. Encarregado da sua educação pela mãe, o precetor padre Deage acompanhou-o até que faleceu, em Paris, onde o jovem, no Colégio de Clermont, dos jesuítas, fez os estudos universitários de retórica, filosofia e teologia. Passou, mais tarde, para a Universidade de Pádua, na Itália, onde se fez doutor em direito civil e canónico, aos 24 anos de idade. 

Envolvido em indizível labor apostólico, o grande teólogo, pregador, polemista e diretor espiritual – herdeiro direto do nome e da tradição da família – não descurara as lições de esgrima, dança e equitação, em complemento da sua apurada formação. Porém, sentindo-se chamado a servir inteiramente a Deus, fez voto de castidade, colocando-se sob a proteção da Virgem Maria, contrariando as pretensões do pai que lhe havia escolhido noiva nobre e rica e o lugar de senador. 

Iniciou a carreira eclesiástica como capelão da catedral de Chamberi, mas cedo se ocupou da evangelização de Chablais, cidade das margens do lago de Genebra, para o que divulgava folhetos de refutação das heresias em voga, contrapondo-lhes apologeticamente as verdades católicas, vindo a obter a recondução ao seio do Catolicismo milhares de seguidores da doutrina calvinista.

Em 1599, foi nomeado Bispo auxiliar da diocese de Genebra, cuja titularidade assumiu três anos depois e onde fundou escolas, ensinou catecismo a crianças e adultos, dirigiu e conduziu à santidade grandes almas da nobreza, que tiveram papel preponderante na reforma religiosa então empreendida, e conseguiu a reconciliação de diversas personalidades em diversos estratos sociais e políticos. E com a madre Joana de Chantal, depois santa, fundou da Ordem da Visitação de Maria, em 1610. E foi a persistência de uma das suas religiosas, a madre Maria de Sales Chappuis, 250 anos mais tarde, que levou o padre Luís Brisson a fundar a obra dos Oblatos de S. Francisco de Sales e, depois, o seu ramo feminino.

Além dos referidos folhetos, dos quais um lhe pôs a vida em risco e que constituíram os seus escritos Em defesa da fé, publicou, a Filoteia ou Introdução à vida devota, que o papa Alexandre VII designou por livro de oiro, o livro que se tornaria imortal, e escreveu para suas filhas da Visitação o Tratado do Amor de Deus, onde glosou o lema: "a medida de amar a Deus é amá-lo sem medida". A sua obra escrita totalizou 50 volumes.

Francisco faleceu no dia 28 de dezembro de 1622, em Lion, França. E da sua santidade não restavam quaisquer dúvidas para os seus contemporâneos, nomeadamente Santa Joana de Chantal e S. Vicente de Paulo, dos quais fora diretor espiritual. No próprio momento de sua morte começou o culto do Santo, cuja memória é celebrada a 24 de janeiro porque, nesse dia de 1623, as suas relíquias mortais foram trasladadas para a sepultura definitiva em Annecy, na igreja da Visitação. D. Bosco admirava-o tanto que deu o nome de Congregação Salesiana à obra que fundou para a educação dos jovens.

A sua beatificação, em 1661, foi a primeira a ocorrer na basílica de São Pedro em Roma, tendo a sua canonização sido feita pelo papa Alexandre VII, quatro anos depois.

Dele escreveu Paulo VI, na carta apostólica Sabaudiae Gemma, em comemoração do IV centenário do nascimento de Francisco, pérola da Saboia e da Suíça:

“Nenhum dos doutores da Igreja, mais do que S. Francisco de Sales preparou as deliberações e decisões do Concílio Vaticano II com uma visão tão perspicaz e progressista. Ele oferece a sua contribuição pelo exemplo da sua vida, pela riqueza da sua verdadeira e sólida doutrina, por ter aberto e reforçado as veredas da perfeição cristã para todos os estados e condições de vida. Propomos que essas três coisas sejam imitadas, acolhidas e seguidas.”.

E Bento XVI, na audiência geral de 2 de março de 2011, não se inibe de afirmar:

“… num período como o nosso que procura a liberdade, mesmo com violência e inquietação, não deve passar despercebida a atualidade deste grande mestre de espiritualidade e de paz, que transmite aos seus discípulos o ‘espírito de liberdade’, aquela verdadeira, no ápice de um ensinamento fascinante e completo sobre a realidade do amor. São Francisco de Sales é uma testemunha exemplar do humanismo cristão; com o seu estilo familiar, com parábolas que às vezes têm as asas da poesia, recorda que o homem traz inscrita no profundo de si mesmo a saudade de Deus, e que somente nele encontra a alegria autêntica e a sua realização mais completa.”.

Efetivamente, nos tempos do presente, marcados pela dúvida e incerteza, por inúmeros atropelos às liberdades e, sobretudo, pela falta de atração pela verdade, é vantajosa a reflexão junto dos que se nos apresentam como exemplos de firmeza dialogante, ensinamento fascinante, mas não falacioso, e auscultadores da realidade a transformar segundo os paradigmas da justiça e da paz, da equidade e do pundonor, da inclusão e reconciliação.