Sobre as metas curriculares de Português no 2.º e 3.º ciclos

01-12-2013 23:04

Passado que foi um ano de aplicação das metas curriculares em que elas eram consideradas como referencial indicativo, é de referir, em consonância com o grupo de professores que integrei (o grupo 300) na Secundária de Santa Maria da Feira, que:

1) Como positivo

- Configuram uma plausível sistematização de objetivos e conteúdos de ensino;

- Constituem um quadro de referência para o docente presente ao longo de um ano letivo;

- Conformam um instrumento de trabalho acessível aos docentes e por eles facilmente manejável;

- Não perdem nenhum dos elementos significativos dos programas de Português do ensino básico;

- Recuperam e relevam suficientemente a componente da educação literária, levando os alunos, ao longo do tempo da educação básica, ao contacto com diversas produções do nosso cânone literário, desde os primórdios até aos dias de hoje, obrigando mesmo à leitura de alguns dos textos literários.

- Estabelecem um grande equilíbrio entre as componentes: linguística, cultural e literária no ensino da língua.

 Porém,

2) Como negativo (ou a melhorar)

- Revelam-se demasiado ambiciosas, se tivermos em conta o estado em que se encontra a média dos alunos nestes níveis de ensino, em razão de algumas dificuldades suscitadas no decurso das aprendizagens (diferenças de ritmo, assimetrias regionais e sociais, crise económica e social, crise psicossocial, tergiversações em políticas educativas, contínuas medidas de administração educativa, oscilações de organização curricular, sobrecarga burocrático-administrativa dos professores);

- Configuram uma quase evidente atomização da abordagem dos conteúdos ou a sua situação estanque no percurso pedagógico, dificultando a caminhada específica e peculiar de cada aluno ou grupo de alunos e a autonomia técnica de cada docente;

- Subalternizam os programas, a que quase se sobrepõem, permitindo a não abordagem de determinados conteúdos, ao menos para informação dos alunos, informação que, a falhar durante a aprendizagem básica, dificilmente será incorporada no corpus pedagógico de cada aluno (v.g. sujeito inexistente ou nulo expletivo, predicativo do complemento direto…);

- Não asseguram um regime de recuperação de dados não conseguidos no ano letivo anterior, tendo em conta que, por razões diversas, a retenção é uma medida excecional;

- Muitos dos alunos entram neste regime de metas curriculares a meio do seu percurso escolar, com uma primeira (quiçá também as subsequentes), mal realizada e com a absoluta proibição de retenção no termo do primeiro ano de escolaridade (estipulada na LBSE e reiteradamente afirmada nos normativos legais);

- Indicam-se como exemplos de ambição das metas: desejar que os alunos no fim do 5.º ano de escolaridade escrevam sem erros ortográficos; tenham no 7.º ano capacidade para a produção de texto argumentativo (com a indicação de um mínimo de palavras); demasiado número de textos literários em alguns anos de escolaridade.

3) Concluindo

Considerando o indicado em 1) e ultrapassando o referindo em 2),

- É de cuidar com maior atenção as diversas fases de socialização das crianças, evitar cair em chavões de duvidosa cientificidade e eficácia;

- É de evitar que se eventualmente se obnubilem conteúdos importantes que tarde ou nunca serão assimilados, mesmo que agora sejam de complexa compreensão;

- Há que prever uma forma de recuperação de metas não conseguidas em ano letivo anterior;

- Deve ter-se em conta o ritmo de aprendizagem dos alunos, bem como o seu contexto específico e, por conseguinte, usar de alguma tolerância, quando as metas não forem conseguidas ao pé da letra e incentivar outros progressos quando o aluno ou grupo de alunos demonstrem maiores capacidades de aprendizagem;

- Evitar que as escolas resistam à voragem obsessiva de estruturas institucionais e editoriais de zelar quase exclusivamente pela preparação para a prova ou exame final, olvidando outras variáveis bem importantes no desenvolvimento pessoal e social, científico e pedagógico;

- Será de promover a capacidade argumentativa de forma mais progressiva e gradual, sem a indicação de um mínimo de palavras de texto e passando por fases de pré-argumentação;

- Propõe-se que o documento indique áreas de produção literária a selecionar, mas deixando aos docentes a definição dos mínimos de escolha de textos para leitura e análise de caráter obrigatório.